segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O Semiárido na visão do Bispo de Afogados da Ingazeira


28 de agosto de 2011

Marcelle Honorato - Assessora de Comunicação da Diaconia

dom_egidio_bisol_2.jpgEle chegou calmo, tranquilo, mansinho, mas com uma fala segura e propositiva. Foi assim que o bispo Egídio Bisol se inseriu em uma reunião da Articulação no Semi-Árido Pernambucano (ASA PE) do mês de agosto. Em pouco mais de uma hora de conversa com pitadas italianas, o sacerdote falou de suas lembranças quando chegou, em 1976, ao Sertão do Pajeú, tirou dúvidas e se colocou à disposição para fortalecer a rede de organizações que têm como meta transformar o Semiárido. Na conversa com a comunicadora popular da ASA PE, Marcelle Honorato, Dom Egídio também falou sobre a importância da agricultura familiar para o povo da região, inclusive, para os mais jovens, e traçou um paralelo entre a convivência com o Semiárido e a conservação da cultura de uma região que é conhecida como o berço da poesia. Confira a entrevista!
ASA – PE: Como chegou à região do Pajeú?
Egídio Bisol: Cheguei ao município de Afogados da Ingazeira no ano de 1976. Acho que você não era nem nascida. Deveria ficar apenas alguns anos, mas fui adiando a minha volta. Depois me casei com a ação Epicospal e aí consegui criar um laço mais concreto com a região. Quando cheguei a Afogados da Ingazeira percebi uma região rica e que sempre me chamou atenção. Antigamente, percebia uma região mais precária e, hoje, vejo que a população tem mais ajuda. No passado, sobretudo durante os períodos de seca, há o trabalho de emergência, porém, é importante frisar que a riqueza do povo, do lugar e a dignidade do sertanejo estão muito presentes nessas lembranças. Aqui o povo tem sua fisionomia, sua cultura, seu modo de viver a vida. Fui aprendendo com eles não só a falar, mas também a viver.  Diante de tudo isso, me angustia a sensação de que esse povo não possa viver da agricultura familiar e não possa mais manter os jovens com gosto e com o prazer pela terra. A terra, além do sentido literal, abrange também outros valores, como a fraternidade, a partilha e a união. É preciso unir organizações para que o Pajeú volte a ter a sua riqueza.
ASA – PE: Como surgiu o interesse de conhecer a ASA –PE?
Egídio Bisol: Eu já conhecia a ASA através dos boletins informativos e jornais da região. Eu vim hoje ao encontro convidado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e é sempre bom conhecer. A nossa diocese pretende se dedicar aos problemas sociais e já trabalhamos com esses temas, inclusive, Dom Francisco [bispo de Pesqueira] é uma referência no combate aos problemas, como a seca e a ditadura. Dom Francisco foi um dos líderes durante esse período histórico. A sensibilidade a essas temáticas continua na nossa igreja. A nossa missão não está, apenas, no céu, mas também no chão.
ASA – PE: Como o senhor observa as mudanças que estão acontecendo no Semiárido?
Egídio Bisol: Vida no campo, contato com a terra. As pessoas saem do campo para ter dinheiro no bolso, mas não conseguem ter dignidade. Conseguem ter dinheiro, mas a renda não corresponde ao custo de vida nesses centros urbanos. Os jovens não estão empolgados. Antes, eu encontrava comunidades com 80 famílias. Hoje essas mesmas comunidades têm 40 famílias. Há uma diminuição no campo. A cultura do Pajeú também será afetada com essa mudança, esse êxodo. A cidade de São José do Egito é conhecida como o berço da poesia e perceba o que fala essas poesias e quais são os temas pelos nossos violeiros. Os temas são terra, seca, vida. Desaparecendo essa vivência no campo, vai desaparecendo também a motivação.  A gente pode até fazer exercícios para construir as poesias, mas a vivência morrerá e a cultura também.

ASA – PE: Como a Diocese de Afogados pode ajudar a transformar o Semiárido?
Egídio Bisol: Podemos ajudar os jovens a terem valores fundamentais e a desconstruírem o mito do desenvolvimento. A CPT realiza acompanhamento técnico com as famílias acampadas e poderemos também trabalhar para promover o resgate do Rio Pajeú, através da diocese. Temos propostas de ajuda ao campo de forma muito prática e o nosso desejo é fazer com que as pessoas se sintam felizes em participar dessas ações.

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